Muitos profissionais dizem que abordar o passado no life coaching pode transformar a conversa em uma sessão de terapia. Então, será que os profissionais de life coaching podem falar sobre o passado com seus clientes?
O cliente menciona algo sobre seus passado, o coach então fica nervoso e se pergunta se deve prosseguir no assunto. Este é o senário para muitos coaches. Hoje vamos explorar este assunto a fundo.
A teoria mais comum é que o trabalho do coach te ajuda a criar um futuro melhor, enquanto os terapeutas trabalham com o passado.
Porém, apesar de existir uma diferença crítica entre aconselhamento clínico de saúde mental e life coaching, a relação entre passado e futuro é menor do que você pode imaginar. No aconselhamento clínico, a palavra operativa é clínica, o que significa que há a presença de um diagnóstico. Se você está buscando um diagnóstico ou tratar e previnir transtornos de saúde mental, busque um psicólogo ou um psiquiatra. Este é o foco do trabalho deles.
Atenção: Este artigo representa um aspecto global e não regional. Por isto, este artigo não reflete legislações e nem serve como referência legal.
Fornecer diagnósticos e tratar transtornos clínicos é algo que os coaches não podem fazer. É claro que a lei não proíbe as pessoas de conversarem sobre qualquer contexto, incluindo sobre o passado. Portanto, falar sobre tratamento médico é outro assunto. Cabe às pessoas legalmente autorizadas trabalharem este assunto.
O que faz um ambiente se tornar clínico?
A presença de diagnóstico clínico ou médico, como Depressão Clínica ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Existem protocolos e padrões clínicos que os profissionais precisam seguir para cada diagnóstico. Diagnosticar e tratar transtornos de saúde mental é coisa séria. Um profissional formado em Life Coaching não tem permissão para isto.
Mas, e quanto ao passado? Existe uma diferença entre os coaches e os terapeutas? Para entender como um life coach deve abordar o passado com seus clientes, vamos identificar dois cenários em que o passado geralmente aparece.
1º Cenário – Associações passadas gerais: O papel que o passado tem na comunicação e em comportamentos. Este se refere à necessidade em se basear no passado para explicar um idéia ou para agir.
2º cenário – Quando o passado é abordado de maneira específica: Quando os clientes mencionam eventos do passado em uma conversa de coaching.
1. Associação com o passado
Referências com o passado aparecem em todas as sessões de life coaching desde sempre. Sem uma associação geral com o passado, seria impossível se comunicar.
O passado permeia tudo. Desta forma, o passado vive dentro de nós como algo necessário para a sobrevivência. Seria impossível agirmos um momento após outro sem referência à lições que já aprendemos. Eu não saberia como juntar estas palavras, a menos que tivesse aprendido no passado. I não poderia me levantar, abrir a porta e sair andando sem me referir ao passado.
Conversar, ficar em pé, andar e abrir portar são comportamentos que aprendemos. Todas as vezes que eu os executo, minha mente e corpo lembra como fazê-los. As memórias são um tão profundas e acessíveis que, obviamente, eu consigo fazer tudo isso sem precisar lembrar conscientemente como eu aprendi. Ainda assim, sem estas memórias, sem as experiências do passado, eu simplesmente ficaria paradão como uma ameba, incapaz de falar ou mesmo pensar em palavras.
Esclarecemos que o passado está sempre presente, dando informações para nossas escolhas e guiando nossos comportamentos. Até mesmo metas futuras e expectativas são baseadas em crenças e desejos que são originadas no passado. Resumindo, é impossível fugir da nossa história!
O passado nunca morre. Ele nem mesmo é passado.
William Faulknew
Desta forma, o passado está presente em todas as sessões de coaching, mesmo que você não o perceba.
2. Como o passado aparece na sessão de coaching
Os clientes de life coaching sempre mencionam memórias passadas relacionadas às suas metas de coaching. Estes exemplos comuns são referencias específicas à experiências passadas.
“Desde que eu reprovei na minha última prova de matemática, eu não consigo me concentrar em estudar.”
“Eu cresci em um ambiente rígido. Meu pai é quem tomava todas as decisões no meu lugar. Agora que eu tenho que me virar, é difícil saber o que fazer. Eu preciso aprender a tomar decisões por mim mesmo”.
“Minha mãe sempre disse que eu não ia muito longe. Eu continuo ouvindo isso na minha cabeça quando estou pensando sobre o que eu quero conquistar”.
Este tipo de comentário é comum no coaching, especialmente quando exploramos o que nos impede de movermos à frente. Então, o que um coach deve fazer?
É importante entender a situação típica na qual a maioria das referências são feitas. Quando ajuda um cliente a conquistar uma meta, o coach geralmente pergunta o que o impede de conquistá-la. Isto geralmente destaca imagens, sentimentos e vozes do passado que enche a cabeça do cliente.
Nestas situações, coaches não se interessam no passado tanto quanto no que impede o cliente de criar um futuro diferente. Entretanto, com frequência nos encontramos no meio de uma memória que há muito havia sido esquecida. Será que deveríamos ficar longe dela, redirecionando o cliente para evitar falar do passado e ignorando assim o obstáculo? Se fizéssemos isso, o processo de coaching perderia drasticamente a eficiência.
Imagine que de fato o coach redirecione o cliente para cultivar recursos internos necessários para superar o obstáculo. Talvez a infusão de sentimentos positivos trará a informação desejada. Esta é uma abordagem comum no life coaching e pode ser eficiente. Focar nos pontos fortes!
Entretanto, mesmo focar nos pontos fortes depende do passado. Lembre-se, associações passadas são impossíveis de evitar. A maneira mais eficiente de relembrar emoções positivas é lembrar de uma época em que você às experimentou. Se você gostaria de se sentir mais confiante, acesse memórias de confiança para conseguir sentir agora o que você já sentiu uma vez.
Será que as memórias positivas são permitidas de serem acessadas durante o coaching? Ou será que apenas memórias negativas devem ser evitadas? Qualquer que seja a resposta, o coach estará em uma situação impossível de tentar evitar algo (o passado) que é invevitável.
Um detalhe óbvio, mas nem tanto…
Tudo que vimos até aqui contextualiza o fato de que, no cenário acima, o cliente está no presente com uma imagem limitante em mente. A memória está surgindo agora, no presente, e se mostra como um obstáculo agora, no presente. Lidar com isto poderia facilmente ser definido como lidar com uma limitação presente, que compromete metas futuras.
Em outras palavras, o passado se fez presente. Se pararmos para pensar, este é o único lugar onde o passado pode existir, o presente.
O coach não fez referência intencional ao passado. O coach estava perguntando sobre o que impede o cliente de mover-se adiantes neste momento. Desta forma, aconteceu de o obstáculo ser uma memória, mas poderia igualmente ser a incerteza, o medo do futuro, uma circunstância externa da vida ou uma crença limitante do presente (que também seria baseada em experiências passadas).
A citação abaixo acrescenta à discussão algo que os historiadores já sabem há muito tempo. A citação abaixo foi tirada de uma opinião no the Guardian.
O passado pode estar morto, mas a história está viva e é construída agora.
Charlotte Lydia Riley, Historian, University of Southampton
Quando disserem que tudo acabou, é apenas a interpretação do dia de hoje que importa. Na verdade, é só isso o que temos.
Imagine três pessoas que cometeram o mesmo erro tentando conquistar uma meta:
1ª pessoa: Interpreta o erro como um sinal que ela deveria desistir da busca;
2ª pessoa: Vê o erro como uma oportunidade de aprendizado e move adiante;
3ª pessoa: Sente vontade de desistir, mas contrata um life coach para transformar seu mindset e aprender com os erros passados, indo adiante com mais inteligência.
Deveriam os coaches recusar clientes que querem aprender com erros do passado a tomarem decisões melhores sobre o futuro? Acredito que não. Entretanto precisamos levar em conta que existem memórias (e outros sinais ou sintomas) que estão ligados diretamente a um diagnóstico clínico. Este não é o trabalho do coach.
Os coaches ajudam seus clientes a remover obstáculos passados que se manifestam no presente, simplesmente por serem limitações que se colocam no caminho para um futuro melhor. De fato, este pode ser um ótimo filtro para distinguir quais elementos do passado são importantes de serem trabalhados – aqueles que surgem enquanto estiver explorando o que te impede de mover em direção ao sucesso.
Resumindo, o que os life coaches podem abordar sobre o passado?
Aqui estão as três possibilidades:
- Dado que o passado é inevitável em qualquer momento, seria impossível proibir coaches (ou qualquer pessoa) de acessar referências do passado;
- Já que a maioria, ou todos os obstáculos para o progresso futuro são representações do passado manifestado no presente, faz sentido que os coaches (trabalhando no presente) possam ajudar o cliente a superá-los;
- Quando memórias (ou quaisquer referências) são associadas a diagnósticos clínicos, coaches devem deixar isto claro e recomendar avaliação do profissional competente.
Finalmente, nós podemos ter uma resposta funcional. Os coaches podem discutir o passado? Sim, desde que eles não estejam tratando um diagnóstico clínico. Novamente, reforço que esta é uma opinião e não uma recomendação legal. Outrossim, o passado é inevitável em uma sessão de coaching, já que está presente na vida cotidiana.
O que te impede de criar um futuro brilhante? A resposta se estende pela sua linha do tempo entre um obstáculo do passado que se expressa no seu presente, refletindo na sua imagem do futuro.